Carta aos meus dedos.

sexta-feira, 6 de julho de 2012



Raso, sem emoção, vazio...

Onde foi parar minha inspiração? Meu jeitinho de escrever emocionando?

Hoje deveria publicar um texto, toda sexta logo de manhã sai um novo texto, mas recuso-me a publicar outro sem emoção, sem cooperação especial de meus dedos falantes...

Textos ditados pela cabeça... são bobos, não dizem nada, um bla bla bla que desanima de ler. Onde foram parar as palavras que me faltam?


Ontem, na tentativa de escrever algo bom, escrevi dois textos que não valem nada. Depois deixei tudo de lado e comecei a reler minhas antigas postagens... Fiquei admirada em ver o quanto eu perdi no meio do caminho. Eu estava em crescente melhoria na escrita e de repente algo cortou isso, parei de derramar minha emoção, empobreci meu vocabulário – como posso ter perdido vocabulário? – perdi a linha do pensamento...

Dedos quebrados...

Procuro alguém que traga de volta a fala dos meus dedos, que andam fazendo greve e já não querem revelar-me o que se passa em minha alma, ja não querem trazer a tona sentimentos naufragados, histórias perdidas – sei que tem mais para ser contado... Onde? – pérolas escondidas... Estaria eu vazia? Por quê? Quando aconteceu?

Meus dedos, a portinha para tudo que sou e sinto, talvez estejam cansados, talvez queiram um pequeno salário – devo pensar em manicure como pagamento, anotarei para não esquecer de citar esse itém em nossas negociações – talvez só estejam de mal humor... ou estariam bravos comigo por ter deixado de ouvi-los por um tempinho?

Mergulhei no trabalho na internet e esqueci-me de deixá-los falar, fui ouvindo minha cabeça e induzindo temas... Dedos mal acostumados, sempre falaram o que quiseram e agora foram induzidos a digitar o que minha cabeça ditava... eles preferem ouvir meu coração, minha alma, não é muito amigo da minha razão, que sempre encontra respostas concretas demais, teme coisas novas e procura argumentos para afastar-me da loucura. Meu coração, minha alma e meus dedos falantes gostam da loucura, é nela que coisas “impossíveis” acontecem, é nela que é possível sonhar mais alto. Desespero-me por não encontrar minha loucura habitual, a paixão pelo que faço, as palavras certas para descrever...

Bem, culpa de vocês, dedos falantes, que me revelaram o quanto sabiam do meu íntimo e me viciaram nessa delatação de mim mesma. Culpa de vocês essa minha exposição e agora o vício por comentários bondosos e incentivadores. Como faço sem eles agora? Acostumei-me com certa bajulação. Muito fácil acostumar-se com o que é bom.

Sei que temos trabalhado muito escrevendo o livro, vocês têm sido muito eficientes nessa parte, mas o blog era parte do trato! Ou não fui clara o suficiente ao fechar nosso contrato vitalício? Leia as letras miúdas!

Uma idéia passa-me pela cabeça: seria, essa falta de vocabulário, a falta de ler em húgaro? 

Quando comecei a escrever para o blog, estava lendo muito em húngaro, o que fazía-me cometer erros ridículos de português, por estar desacostumada com as palavras, antes tão familiares. Porém existia toda uma nova visão de como expressar-me. A língua húngara é extremamente rica em expressões, sua construção permite uma descrição profunda e muito mais precisa do que se sente, dizem que é uma língua perfeita para filósofos, não que eu tenha a pretensão de ser uma, mas de qualquer forma, usava muito isso. Ultimamente, só lendo em português, tenho melhorado na gramática, mas é daí? Onde fica a profundidade disso? Lembro-me de pensar em húngaro para escrever os primeiros textos e ter que experimentar várias palavras, várias frases diferentes até encontrar o que eu realmente queria dizer com a expressão. Talvez deva ler algo em húngaro novamente. Ia me fazer bem, faria bem aos meus dedos, com certeza.

Tenho estado mais no Brasil que na Hungria, ja que a internet proporciona-me essa possibilidade. conversas em português, todos os amigos dispostos o dia todo para falar, um mundo paralelo onde tenho uma maior convivência que o concreto, onde vivo. E quando um húngaro aparece, faltam-me palavras, fico no básico e pobre, regredindo para uns 9 anos atrás, quando ainda não tinha o entendimento que tenho hoje sobre a língua húngara. Isso tem que mudar.

Parece que estamos progredindo, estão aparecendo soluções... 

 Agora vamos fazer um trato, lhes dou manicure, creme para mãos, umas leituras em húngaro e toda minha alma para que vocês, dedos falantes, possam novamente revelar-me o que eu sinto, o que eu sei, traduzindo em linguagem clara, até mesmo aquilo que passou despercebido ou que não entendi direito. Voltem a me impressionar com meus sentimentos e pensamentos.

E para quem lê, os insistentes, queridos amigos, que continuam passando por aqui, esperando que voltem os textos mais profundos, obrigada pela paciência e insistência. Vamos esperando que a greve acabe, o trato seja aceito e que a inspiração cubra meus dedos de emoção novamente.

Cruzando os dedinhos para que dê certo. 

Com carinho, a autora.
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