Sonhos não morrem, adormecem...

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Photo from deviantart.com

Durante minha estadia no Brasil, despertei um sonho...

Num dos churrascos de domingo, onde toda a família se reúne, um dos meus primos, Rique, comentou sobre o show que estava para acontecer durante o mês de abril, um show do Skid Row.

Para quem não conhece a banda, o Skid Row fez muito sucesso na mesma época do Guns´n Roses. Eu era totalmente louca por essas duas bandas, tanto o Skid quanto o Guns, com posters enormes dos vocalistas no meu quarto, discos e todos os dias esperando os top10 da Mtv, onde eles sempre estavam entre os primeiros. Sonhei muito em assistir um show deles, na euforia da adolescência, onde fazemos dos ídolos figuras tão importantes. Mas na época eu só tinha 16 e minha família jamais me deixaria participar de um show de rock, principalmente meu pai, que não entendia minha loucura por aqueles cabeludos barulhentos. Adorava fazer cara feia e criticá-los fazendo piadas, só para me provocar... mas claro que esperava que eu terminasse o top 10 antes de mudar para o seu jornal, mesmo que isso significasse ter que ouví-los até o último grito. Em resumo, em casa eu podia ouvir o quanto quisesse, mas ir ao show...

Anos se passaram e esse sonho foi ficando para trás, foi perdendo a importância. O que era meu maior sonho na época, tornou-se apenas um pequeno desejo não realizado e depois foi tido como morto durante muito tempo. Continuei gostando de rock, ouvindo outros novos grupos e velhos clássicos. Assisti outros shows maravilhosos, como o do Kiss, em São Paulo e o do Creedence, no acampamento de 100 anos da Harley Davidson, na Hungria, junto com meu marido, que na época era nomorado, e viajávamos de moto pelo país de vez enquando... Uma das melhores lembranças que temos, andar de moto o dia todo com um grupo de milhares de motos, centenas de Harley e a noite ver o Creedence num show simples, no gramado, palco de madeira, jeans e camiseta preta... e quando começaram a cantar, não precisava de mais nada, cantei todas as músicas na primeira fila e curti cada acorde que eles tocaram... inesquecível! As músicas nem eram da minha época... Mas fala sério, essas coisas não tem época, não tem preço... Acampar com o Creedence fazendo o “showzinho” em volta da fogueira é pra matar qualquer um do coração... Eu, fã de rock, pelo menos...

Enfim, quando o Rique comentou sobre o Skid Row, reacendeu uma pequena chama de vontade de participar, de realizar esse sonho enterrado. Prometi ao meu primo que ia conversar com meu marido sobre o show - o que não teria problema nenhum, conhecendo meu marido - e que depois o avisaria, para comprar os convites...

Mas, passada a euforia da conversa com o Rique, não falei sobre isso com meu marido. Refleti um pouco e achei que seria besteira gastar nisso agora, que estávamos um pouco apertados com minha viagem para o Brasil e dificuldades na firma dele para conseguir trabalhos... Tenho certeza que se eu tivesse perguntado, ele diria que era para eu ir e eu não estava achando certo no momento, não quis ser egoísta e também sabia que poderia viver sem isso, um sonho ha tanto tempo esquecido. Eu não era mais aquela adolescente e nem o vocalista deveria estar no mesmo pique de 20 anos atrás... A razão nunca me deu as coordenadas certas, incrível, minhas melhores decisões sempre partiram da emoção...

Se alguém procura desculpas para não realizar um sonho, acaba achando...

Fato é que eu tenho padrinhos maravilhosos! Substituem qualquer fada madrinha de contos de fada...

No final de semana seguinte, fui ao show dos meus primos Rafa e Rique, que tem uma banda: Soulk. O Rafa toca guitarra desde os 7 anos de idade e eu sempre o acompanhei no vocal quando éramos criança. Posso dizer que fui sua primeira fã. Claro que não perderia um show deles. E meus padrinhos, que são seus pais, fizeram questão de me levar.

Antes que o show começasse, minha madrinha comentava com entusiasmo sobre os shows que tinha assistido: Creedence e Joe Cocker. Eu, suspeita pra falar do Creedence, estava animadíssima na conversa. Ela então pulou para o show do Skid Row, que seria em breve. Eu me contendo e lembrando a mim mesma que não deveria me empolgar, pois não iria gastar com isso agora... E então ela diz que gostaria de me dar de presente. Eu iria com meus primos ao show. Rafa, Rique e Daniela, minha prima companheira na loucura por bandas de rock e vocalistas cabeludos.

Eu, com toda essa comunicação que Deus me deu, esse meu dom natural para agradecimentos(ironia, para quem não sabe)... fiquei sem palavras e claro que não reagi com tanta empolgação quanto deveria. Coitados dos meus padrinhos, ainda bem que conhecem a peça aqui... Eu queria ter pulado no pescoço deles e agradecido aos gritos, histérica, mas não o fiz. Reservadamente disse que seria ótimo, com um grande sorriso contido e fiquei sonhando com o dia do show. Essa mania de conter os sentimentos... Ainda bem que posso escrevê-los depois e melhorar a primeira impressão...

Durante 1 semana, só ouvi Skid Row. Fui preparando meus ânimos e para o caso de não sentir tudo aquilo que eu sentia na adolecência, afinal, eu havia amadurecido e os ídolos haviam mudado, não queria descepcionar-me com o resultado.

Dia do show. Estava em êxtase, não acreditando que realmente iria realizar esse sonho, mesmo que um sonho antigo e meio que perdido no tempo, enferrujado e empoeirado... Eu e minha prima Daniela, que não perdíamos 1 top 20 de domingo, quando assistíamos juntas e loucas pela banda, estávamos finalmente vivendo esse dia e juntas. O local do show era simplesmente inacreditável! Era pequeno... Isso quer dizer que por mais cheio que ficasse, eu ainda sim os veria de perto! Não bastasse isso, eu estava realmente perto, muito perto do palco. Comecei a sentir o sangue borbulhar com um sonho prestes a se realizar. Eu veria um mito, o meu mito...

E o show começou... Sebastian, o vocalista, entrou girando o microfone e balançando seus longos cabelos,  sua marca registrada, movimentos estudados e decorados pela minha mente, que sonhava em vê-los ao vivo. O sangue ferveu e os sentimentos explodiram como num vulcão. Não chorei porque minha reação é sempre abrir um sorriso imenso, em casos de emoções felizes, daqueles que congelam no rosto.

Realmente não foi a mesma coisa que se eu tivesse assistido ha 20 anos atras... Foi muito melhor! Não estava apenas vivendo o momento, estava revivendo minha adolescência e tudo o que trazia saudade, tudo de bom que ficou daquele tempo. Cada acorde, cada balançada de cabelo do Sebastian e sua mão movendo-se exatamente como eu via todos os dias na tv, chamando o público para cantar com ele. Ele trouxe meu passado todo como adolescente para o presente. E voltei a sentir-me com 16 anos, podia sentir a pulsação forte do meu sangue, minhas veias fervendo no topor da adrenalina, hormônios da adolescência espalharam-se pelo meu corpo, como um banho na fonte da juventude. 

Voltei a lembrar dos sonhos bobos que eu tinha e descobri que nenhum sonho pode ser bobo o bastante para não ser realizado. Realizar um sonho é a melhor coisa do mundo, seja ele qual for, seja ele quando for. Era eu, com 16, aos 33, realizando meus sonhos e relembrando de todos eles, da importância de cada um.

Eu pulei, gritei e cantei todas as músicas, foi fantástico! Sebastian fez um show incrivelmente profissional e animado, não sei se teria sido assim com 20 anos a menos, mas não consigo imaginar melhor.


Depois do show ainda demos muita risada, paramos para comer um lanche na estrada, lembramos dos cafés da tarde no sítio da minha avó e gargalhamos com a lembrança do meu primo, de quando tentávamos tirar a nata do nosso nescau com a peneira e ela se partia e se multiplicava em vários pedaços pequenos e impossíveis de tirar... Pequenas lembranças, pequenos sonhos e tão importantes!

A questão não é o acontecimento desse dia. Talvez você esteja pensando que é um exagero meu e que essa banda é uma droga, o que eu discordo plenamente... enfim, não é o que aconteceu e sim como... Nesse dia aprendi algumas lições: Não se deve procurar razões para não realizar um sonho e sim realizá-lo; Sonhos não são bobos e nem perdem importância, apenas ficam adormecidos até o momento de torná-los reais; Quando você desperta um sonho que adormeceu, ele acontece com toda a emoção que você o sonhou um dia; E nunca é tarde demais para transformar um sonho em realidade, cada um, por menor que seja.

Aos meus padrinhos maravilhosos, Marlen e Wagner, muito obrigada por fazerem acontecer esse momento na minha vida. Agradeço não só pelo show do Skid Row, que foi incrível, mas por tudo o que sempre fazem por mim e por me lembrarem de não desistir de sonhar. Esse dia e tudo o que aprendi com ele, eu devo a vocês. Amo vocês!

E em junho ja estamos garantidos no show do Guns’n Roses na Áustria, eu e meu marido. Mais um ticket para viajar no tempo. Será esse o segredo da juventude, realizar sonhos adormecidos? Se não é, o sentimento é bem próximo...


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